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CONCESSÕES DESTACADAS

O novo despertar: educação por meio de alto falantes na Amazônia peruana durante a pandemia

POSTOU: JANEIRO 29, 2022

“O sentimiento das crianças e das famílias era um de abandono, de que ninguém lembrava delas… depois o sentimento foi de serem acolhidos e atendidos e logo a comunidade passou a assumir a educação. Quando chegaram os alto-falantes… foi como um milagre, uma benção para uns, e para outros uma surpresa.”   – Pascual, Professor.

Área programática: Educação
Valor da concessão: US$75.000 ao longo de 12 meses
Otorgado: 2020
Publicado: 29 de janeiro de 2022


A Asociación Minga Perú (Minga) trabalha ha 24 anos na Amazônia peruana com comunidades indígenas rurais e remotas nas áreas de saúde, educação e meio-ambiente. A associação foi fundada e liderada por especialistas peruanos em comunicação para uma mudança social. Até agora, mais de 120 organizações sociais e redes, principalmente na América Latina e o Caribe receberam treinamento de Minga em estratégias interculturais de comunicação com foco em mudanças sociais. O programa emblemático de rádio educacional, Bienvenida Salud de Minga, têm mais de 3.000 episódios e chega a 120.000 ouvintes. Os episódios têm como fundamento as mais de 45,000 cartas dos ouvintes de toda a região com suas preguntas, opiniões e histórias.

No seu trabalho educacional, Minga colabora com os professores rurais bilíngues para criar e implementar planos de estudo complementários focados na saúde sexual e reprodutiva, a prevenção da gravidez e do HIV, a autoestima e a conservação do meio ambiente, ao mesmo tempo em que reforça conhecimentos de matemáticas e alfabetização e revitaliza as línguas amazónicas nativas. Um componente transversal do modelo de Minga é investir e treinar as mulheres como promotoras comunitárias que ajudam a associação a identificar as necessidades locais e a implementar os seus programas.

Dada a situação do COVID-19 e o fechamento das aulas presencias nas escolas, Minga trabalhou junto com os professores, líderes comunitários e as famílias para recuperar o aprendizado das crianças da Amazônia peruana. Com o apoio da Fundação Tinker e de outros doadores, na segunda metade do ano 2020, Minga instalou alto-falantes em 25 comunidades dos povos originários Kukama-kukamiria e Iquitu e utilizou o rádio e os alto-falantes como meio alternativo para transmitir aulas interculturais de matemática e comunicação integral adaptadas a suas culturas, tradições e formas de viver. Seus esforços oferecem um exemplo de como a sociedade civil respondeu ao fechamento repentino das aulas em quase toda a região.

Desde o início do projeto, Minga vem trabalhando com professores Kukama e Iquitu, a comunidade e com locutores locais para elaborar scripts educacionais que não requeiram a presença contínua dos professores e ao mesmo tempo empoderem os estudantes e suas famílias como protagonistas da sua educação. Na primeira etapa, foram criadas 56 lições com um foco intercultural e com aprendizagem autorizada pelo Estado e com base no currículo nacional. Durante os últimos meses, o conteúdo foi apresentado e transmitido em espanhol e Kukama-Kukamiria e também reflete o calendário socio-produtivo da região (por exemplo, com conteúdo sobre pesca durante a temporada de pesca). Graças a este projeto, quase 1,250 estudantes de 3ª, 4ª, 5ª e 6ª série de educação fundamental de 25 comunidades, as mais remotas de Loreto, puderam continuar seus estudos. Com isso, garantiu-se a equidade, a inclusão educacional e diminuiu a vulnerabilidade e a exposição aos riscos devidos a ausência das aulas presenciais.

Para conhecer o impacto, uma parte vital do projeto foi a medição do progresso das crianças. Além de ouvir as aulas, as crianças aplicam as lições que aprendem nos deveres de casa e fazem avaliações periódicas com fichas de aprendizagem. Agora também foram incluídas atividades demonstrativas e aplicações práticas como evidência e também para valorar o conhecimento. Os alunos têm a oportunidade de mostrar não apenas aos professores mas a suas famílias e à comunidade, o que aprenderam de forma prática sobre as matemáticas ou comunicação em um espaço participativo “ao ar livre” e em suas próprias línguas nativas.

A iniciativa chegou além da aprendizagem e do desenvolvimento de capacidades e ferramentas para meninos e meninas. Representa um projeto comunitário que serve para engajar todos os integrantes da comunidade. Por um lado, fez que os pais e os avôs participassem mais ativamente na educação de seus filhos e netos. Por outro lado, facilitou a aproximação entre alunos e professores com os sábios da comunidade, incorporando seus conhecimentos e reconhecendo-os como atores de muito valor. Isso significou o resgate e o despertar do interesse pela língua Kukama assim como a recuperação da sua própria cultura.

Um momento de surpresa vira alegria e as comunidades se sentem empoderadas para atrair as crianças e praticar o que ouvem pelos alto-falantes e raciocinar sobre o que ouvem todos os dias… A pandemia representou um despertar da cultura Kukama, despertando o que estava dormente. Lembrar novamente os conhecimentos, o interesse pelo nosso idioma, contrário à vergonha que antes se sentia, agora estamos em um período de recuperação. Representa conectar com a natureza, engajar os pais nos ensinamentos e incorporar o conhecimento dos avós que desempenham um papel importante e apoiam e facilitam a aprendizagem. Tudo isso representa alcançar o sonho de que meu povo comece a se motivar, recuperar e promover sua própria importância. Como professor, tudo isso me da uma enorme satisfação e alegria.” Pascual, Professor.

Esta iniciativa foi possível graças ao trabalho colaborativo de Minga com o Ministério da Educação local, que promoveu e apoiou este esforço, e com os professores rurais bilingues, as mulheres líderes comunitárias e os “apus” (líderes comunitários). Minga já começou a treinar organizações aliadas para chegar a outras comunidades utilizando abordagens similares. A equipe de Minga planeja continuar com a comunicação através de mensagens educacionais e usando alto-falantes nos próximos anos, já que demonstraram seu enorme potencial nestes tempos extraordinários.

Escrito por Mónica Trigos Padilla

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